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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

I love Lucy (1951-1957)





Lucille Ball, ao lado de Betty White, deve ser a comediante de televisão mais famosa dos Estados Unidos. Não é a toa, I love Lucy foi o primeiro sitcom ever da televisão, definindo todo esse gênero de programa. Mesmo após seu fim, em 1956, Lucy e seus cabelos ruivos continuaram famosos, e a moça trabalhou até o ano de sua morte, em 1989.

A ruiva de Rhode Island tem méritos não por apenas ter criado o primeiro sitcom com seu marido, Desi Arnaz, mas por ser a primeira mulher do ramo. E vocês sabem como nos queridos anos 50, a coisa não era fácil se você resolvia não ser dona de casa. Ser atriz nessa época era um calvário, uma vez que a profissão era relacionada à mulheres indecentes. Somente por essa razão, Ball é uma heroína para mim. Vocês imaginem o que era fazer parte da produção de um programa/sociedade/mundo dominado pelos homens. É difícil imaginar, mas Lucille com seu temperamento classificado por muitos como difícil conseguiu se firmar nesse métier, o que acho que deixou muitos com medo.



Nenhum seriado é tão anos 50 quanto I Love Lucy. Mas, Jessica, como não seria se ele é ambientado nos anos 50, alô?! Se você gosta de uma boa aula de história prática, sem livros e decoreba, recomendo que assista a esse seriado. Ele é uma aula muito bem dada de como funcionavam as coisas naquela época. Por vezes o humor de I Love Lucy está relacionado ao sexismo, o que torna a série (pelo menos para mim) difícil de digerir às vezes.

Vamos aos fatos primeiro: o sitcom foi o primeiro no ramo, exibido pela CBS no final de 1951. O que eles não fazem que dá dinheiro e traz sucesso, né, minha gente? Dallas, Twin Peaks, Além da imaginação... Tudo começou (na ilha do sol? não!) com a ideia de transformar o programa de rádio My favorite husband, estrelado por Ball e Richard Dennig, em programa de televisão. Contudo, o gênio difícil da ruiva bateu o pé e insistiu que seu marido, o cantor cubano Desi Arnaz, fizesse o papel do marido. Nada mais anos 50 do que esse desejo de Lucille ter deixado os produtores de cabelo em pé. Eles tinham medo que o casal interracial fosse condenado pelo público. Para provar que estavam errados, Lucy e Desi saíram em excursão com sua peça pelos EUA. Deu certo. Bora passar para televisão. Pera, mas e o título? O título Lucy & Ricky foi rejeitado por motivos de: não queremos esse latino-americano figurando no nome de uma série. Então para agradar aos produtores, o nome do programa passou a ser I Love Lucy.
A história do programa é simples: cantor de boate, Ricky Ricardo (Desi), casado com a americana ruiva (Lucille Ball). Eles moram em um apartamento onde há um senhorio muito peculiar, formado por Ethel (Vivian Vance) e Fred Mertz (William Frawley). As confusões da série acontecem quase sempre porque Lucy sonha em pertencer ao show business, mas todas suas tentativas são censuradas pelo marido. O que não a impede de continuar tentando e arranjando confusão. Aqui já temos algo bem 1950: o marido quer que a esposa fique em casa. Além de frustrar todas as tentativas de Lucy, Ricky ainda faz piada com suas habilidades, consideradas inferiores, que às vezes dão a impressão de ser assim pelo fato de ela ser mulher.  Mas o público de 1950 não ligava, achava engraçado. O personagem de Ball era a reprodução de várias donas de casa por aí.



Para escrever esse post, recomecei a assistir o DVD da primeira temporada de I love Lucy. Percebi algo nos famosos choros de Lucy que nunca tinha me passado pela cabeça, ou seja, como ela é uma forma de reforçar estereótipos femininos. Quem assiste sabe que ela, quando não consegue o que quer, começa a berrar, berrar e berrar. A voz de Lucille contribui para o “humor” da cena, uma vez que ela é esganiçada, fina e um pouco irritante. Neste episódio que revi, Lucy começa a berrar até Ricky dizer: Tudo bem, Lucy, você pode cantar na festa beneficente! Esse comportamento quase infantil reforça que nós, mulheres, somos histéricas, que só conseguimos as coisas na base do grito. E nada mais 1950 do que fazer piada com isso. Problema é quando a NET faz uma piada com isso em 2013.




O seriado praticamente criou o gênero sitcom. Ele era gravado ao vivo e embora muitos duvidem as risadas engarrafas são de verdade! Como é característico desse gênero, existem as piadas com fatos recentes. “Sua peça faria Laurence Olivier embarcar no primeiro barco para os EUA” diz Ricky em um dos melhores episódios da 1ª temporada, Lucy escreve uma peça de teatro. Além disso, ela mostra como os americanos ainda estavam bastante muquiranas (palavra que minha vó utiliza detected) depois do pós-guerra, pois Lucy e Ricardo vivem em estado de economia. Quando compram uma máquina de lavar louça nova é a glória para eles.

Mas parece que só reclamo da posição das mulheres neste post. Mentira! Muitas coisas me agradam em I love Lucy. Uma delas é o entrosamento do elenco. É o tipo de série em que todos os personagens são bons e funcionam bem. Ethel e Lucy são as amigas mais legais e é fácil identificar você e sua melhor amiga. Ethel já fez de tudo pela amiga: vestiu-se de cavalo, de mexicana e tudo mais. Acho que o conceito de sitcom onde existem personagens com uma amizade forte (Friends, The Golden Girls...) começa com Lucy.

É claro que não poderíamos deixar de falar no entrosamento entre o casal protagonista. O fato de serem casados na vida real torna a série mais interessante ainda de ver. Vemos demonstrações de amor, beijinhos pra cá e pra lá, e você sabe que eles não estão atuando. Lucille e Desi se conheceram no set de um filme que ela estava gravando para a MGM. Se não me engano, Ball estava com uma roupa de dançarina, muito bonita, com as pernas de fora. Ao passar por Desi, o homem ficou apaixonadíssimo. Apesar da diferença de idade, eles se casaram. Eles queriam muito ter filhos, mas foi difícil; Lucille não conseguia engravidar. Por estar chegando aos 40 era preocupante, talvez ela não pudesse ter mais filhos. Contudo, no começo da 2ª temporada, a boa notícia: ela engravidou! Já que Lucille engravidou, a equipe do programa decidiu fazer a personagem engravidar também. A 2ª temporada inteira é dedicada a essa gravidez, e nas seguintes, o primeiro filho deles, Desi Arnaz Jr. Mas como nem tudo são rosas, o relacionamento entre eles acabou terminando. Reza a lenda que foi por causa das traições de Desi. Contudo, alguns teóricos da zuera afirmam que eles nunca deixaram de se gostar. Quando eles gravaram uma das últimas cenas de I love Lucy, os dois ficaram um longo tempo se abraçando. Aquele não era só um adeus a seus personagens; era o adeus dos melhores anos de suas vidas.  Para os fãs o que ficou foi um dos melhores seriados dos anos 50. Que em 2013 nos parece quase atemporal.

Para os curiosos, deixo um top 5 dos melhores momentos da série:

1)      Lucy dublando Mamãe eu quero: sentindo-se menosprezada pelo marido, Lucy decide transformar em uma cubana de verdade. Para isso, ela decora a casa com motivos latinos e faz com que Ethel se vista com uma roupa que mais parece mexicana do que cubana. O humor da cena fica por conta do disco que começa a pular, fazendo com que Lucy tenha que improvisar e mexer a boca muito rápido, e o fato de Carmen Miranda representar Cuba.




2)      Oi, eu sou a vitamina: esse episódio foi eleito recentemente o mais engraçado da série pelos americanos. Lucy decide fazer a propaganda de um xarope estilo Biotônico Fontoura, mas acaba engolindo tantas colheradas que  se embebeda com o remédio.



3)      A cena dos bombons: Lucy e Ethel decidem trabalhar, mas não sabem fazer absolutamente nada. Acabam conseguindo emprego como embaladoras em uma fábrica de bombons. No entanto, não conseguem pegar vários bombons ao mesmo tempo e embalá-los. E aí é que elas começam a apelar para os métodos mais loucos para poder conseguir embalar os bombons.




4)      A imitação de Bette Davis: Lucy, muito espertinha, decide fingir uma doença para que seu marido se compadeça e a deixe atuar em um de seus shows. A doença escolhida por ela é transtorno de personalidade. Durante o episódio, ela encarna uma versão muito engraçada de Bette Davis, uma garota que perdeu a memória e uma criança. Em nenhum momento está dito que a imitação é de Davis, mas podemos perceber pela semelhança clara dos trejeitos e o cigarro quase hiperativo que Lucy segura.



5)      Mme. Lemond: Lucille Ball nos mostrando suas habilidades no ballet. Ainda há o personagem de Mme. Lemond que fica repetindo (até grudar na cabeça): one, two, three and four, one, two, three...




Publicado por: Jessica Bandeira

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