A moda está por tudo! Até a guerra é moda!
A elegante Polly Maggoo (Qui êtes-vous, Polly Maggoo?) é um desses filmes que, se não agradar pelo enredo, certamente nos
agrada pelas imagens. Se você é um amante dos anos 60, das mulheres com suas
perucas e cílios postiços, é melhor já ir procurando pelo Torrent desse filme,
ele com certeza vai te deixar com vontade de entrar em uma máquina do tempo e
ir parar nos anos 60!
Realizado por
William Klein, um ex-fotógrafo da Vogue, o filme tenta responder a pergunta de
seu título original: quem é Polly Maggoo, afinal? Por que todos são fascinados
por ela? Polly (Dorothy MacGowan) é entrevistada por um programa, o “Quem é
você, insira-o-nome-do-fulaninho-aqui?”, que segue a moça durante o filme,
tentando nos revelar o que está por trás da maquiagem pesada de Polly. Uma
máscara? E mais outra máscara? Mas eu arriscaria dizer que Polly é um elemento
secundário para falar do elemento central desse filme: a moda. Quem é você, moda? Essa é a pergunta que,
para mim, Klein tenta responder.
Para falar de A elegante Polly Maggoo não podemos
deixar de nomear alguém MUITO importante nesse meio chamado Diana Vreeland.
Diana foi a primeira Anne Wintour da Vogue, com muito mais humildade e
criatividade do que essa última. Diana começou na revista Harper’s Bazaar com
uma coluna boboca, que logo desapareceu assim que a 2ª guerra mundial começou.
Diana começou a escrever dando conselhos para as mulheres se vestirem bem com
pouco dinheiro. Ela foi subindo de posto até se tornar a chefona da Harper’s,
criando capas e conceitos que mudariam a visão de moda que as pessoas tinham.
No entanto, foi na Vogue que Vreeland pode se destacar, usar a moda como uma
forma de rebeldia, de quebra dos padrões. A primeira coisa que nos chama a
atenção em suas capas são as modelos. Vreeland, conhecida por sua “beleza
peculiar”, começou a usar modelos completamente despidas do status de diva que
dominava a moda na época. Modelos com sardas? Vamos usá-las. Muito altas?
Também. Pescoço longo? Pode tirar a foto! Diana gostava de ressaltar o que
havia de muito chamativo nas modelos, uma clara forma de colocar a língua para
todos aqueles que torciam o nariz para essas garotas, inclusive para a própria
Diana, sempre considerada tão feia, a começar por sua mãe. Cher, Veruschka,
Penélope... Todas essas modelos maravilhosas passaram pelas mãos de Vreeland.
Por ter fotografado na Vogue (ao lado de grandes nomes como David Bailey, que
namorou Catherine Deneuve, olha meu lado Hedda aí), é bem possível que Klein
tenha conhecido Diana. Não é surpresa que o personagem, Sra. Maxwell (Grayson
Hall) seja tão escancaradamente inspirada nela. Diana, assim como a Sra.
Maxwell, inspirava medo em todos. Quando ela olhava um editorial de moda, todos
tinham medo do que iria dizer. Diana não se importava em gastar dinheiro para
fazer um bom editorial, o que fez com que perdesse o emprego na Vogue. Podemos
notar a mesma adoração doentia que Diana inspirava no mundo da moda através das
pessoas que cercam a Sra. Maxwell. Ao aprovar a coleção de um cientista, as
pessoas a sua volta começam a cantar em coro “Magnifique”, pois o que ela dizia
era lei. O refinamento de Diana em
criar conceitos através da fotografia também aparece na Sra. Maxwell. Há uma
cena muito interessante em que Polly está tirando fotos no alto de uma
catedral, algo muito maluco por si só. E o que dizer de Diana que levava suas
modelos até o Saara para fotografar? Além disso, há um ensaio em um cemitério
(!!) com Polly encarnando uma morte moderna.
Diana Vreeland, a Anna Wintour mais humilde e criativa da Vogue nos anos 60
Como todo filme
francês dos anos 60, esse aqui também sofreu uma grande influência da Nouvelle
Vague. Contudo, acredito que a influência de Buñuel é mais forte, uma vez que o
filme nos leva para universos paralelos, juntando tudo numa montagem que parece
um sonho. Temos até uma releitura de uma cena de dança entre Ginger Rogers e
Fred Astaire! É uma viagem agradável de fazer, eu diria. Às vezes um filme não
precisa ser nos dar todas as respostas para ser bom; é o caso de A elegante Polly Maggoo. Talevz a viagem
na maionese seja um suporte secundário para discutir a questão mais velha que
minha avó: a moda é fútil? O que é?
Há um diálogo
precioso no filme em que justamente isso é discutido. Um dos personagens
confronta Polly, dizendo velhos chavões como “a moda é futilidade”. Ela, então,
dá um discurso inflamado dizendo que a moda está em tudo, até na guerra que
fazemos. Às vezes tenho a impressão de que a moda nessa época era um meio de
libertação, muito mais livre do que hoje em dia. Digo, você tinha uma revista
Vogue, que falava de Simon & Garfunkel, dos hippies, daquilo que estava em
voga e mudando a sociedade. Hoje em dia só vemos editoriais de moda ditando o
que você deve ser, o que deve vestir e como se comportar. William Klein mostra
que a moda é muito mais do que posar para uma revista fazendo caretas. Até a
careta que a modelo faz é minuciosamente escolhida, aquela careta quer dizer algo.
Veruschka, modelo da Vogue, fotografada por Richard Avedon
No dia em que a
moda voltar a ser algo libertador e não ditatorial talvez possamos assistir a
um surto criativo. No momento, acho que faltam Dianas Vreelands no mundo. Falta
alguém realmente preocupado em libertar a moda que existe em cada pessoa; não
em nos encaixar naquilo que alguém disse que é bonito. Enquanto isso, podemos
assistir A elegante Polly Maggoo e ficarmos
com um gostinho de nostalgia.
Publicado por: Jessica
Bandeira.
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