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segunda-feira, 30 de junho de 2014

A Última Noite de Boris Grushenko (1975)

"Amar é sofrer. Para evitar o sofrimento, um não deve amar. Mas então, um sofre por não amar. Portanto, amar é sofrer; não, amar não é sofrer, sofrer é sofrer. Ser feliz é amar. Ser feliz então é sofrer, mas sofrer te faz infeliz. Portanto, para ser infeliz, um deve amar, ou amar o sofrimento, ou sofrer de demasiada felicidade"
Uma mistura de Tolstói e Dostoiévsk (sobretudo de referências à Guerra e Paz e Os irmãos Karamazov, de onde Woody tirou  o nome do protagonista), questões existenciais, referências ao cinema de Ingmar Bergman e o humor físico de Buster Keaton, A Última Noite de Boris Grushenko (no original, Love and Death) é uma das grandes obras de Woody Allen, e o melhor da sua fase-pastelão dos anos 70. Além do mais, é a primeira fase da parceria frutífera com Diane Keaton, que comentei mais a fundo no post sobre Annie Hall. Aqui, Woody debocha da vida num geral, e faz rir com piadas e gags que surgem no ritmo de uma metralhadora.

#Séries: Bates Motel


Série da A&E inspirada no livro de Robert Bloch e no filme de Alfred Hitchcock. O plot é simples, o que aconteceu antes de Norman se tornar "psicótico". Na verdade, é um tanto audacioso pensar "vamos pegar esse personagem que todos já conhecem e contar mais sobre ele!"Mais que um suspense, é uma série de ação. Os roteiristas dividem-se entre mergulhar na consciência de Norman e explorar os conflitos maternos e ainda criar novas situações de suspense para atrair espectadores. Esse é um dos grandes desafios, satisfazer a nostalgia dos fanáticos pela história original e também cativar outro público que não assistiu o filme e acompanha a série. Na época do lançamento estava empolgado e desconfiado, acredito que muitos fãs do "legado" do filme original desconfiam no que diz respeito as adaptações do seriado para a televisão. Então vamos falar de Bates Motel...

sexta-feira, 27 de junho de 2014

As ligações perigosas (1959)



Nada mais certeiro do que os créditos de abertura de As ligações perigosas serem um tabuleiro de xadrez. A metáfora utilizada pelo diretor Roger Vadim poderia resumir o filme e até mesmo a vida. No xadrez cada movimento que fazemos necessita de precisão. Ele deve ser calculado, as perdas e o ganho de mexer nessa ou naquela peça. Em As ligações perigosas, as pessoas são as peças, mas quem é a jogadora? Bem, digamos que ela seja nada mais nada menos do que Jeanne Moreau.



A releitura de Roger Vadim do romance epistolar de Choderlos de Laclos gerou polêmicas, o que é interessante se pensarmos que já estávamos as portas dos anos 60. Como uma adaptação livre de um romance mais velho que a sua avó poderia ainda chocar as pessoas? Simples, é só ambientá-lo na Paris dos ricaços e colocar Jeanne Moreau no papel principal, que era considerada uma mulher indecente para a época. Mas logo falaremos sobre isso. O resto deixe por conta da palavra “adaptação” que por si só suscita discussões ferrenhas.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Aconteceu em Havana (1941)


Ela está no nosso imaginário, na construção de nossa subjetividade como brasileiros e pessoas. Carmen Miranda, assim como o futebol, é uma parte de nós, daquilo que é ser brasileiro. Mas se a influência do futebol é visível, a de Carmen não parece muito clara para nós. É até mesmo controversa. Para alguns, ela traiu o movimento ao se mudar para Hollywood, outros permanecem orgulhosos com o fato dessa atriz de origem portuguesa e nascida no Brasil representar um pedacinho do Brasil na era de ouro do cinema em Hollywood.

Não há ninguém que não a reconheça com seu turbante de frutas, fazendo uma dança pra lá de sensual numa época em que requebrar os quadris como a Shakira era um crime contra a decência. Alguns se lembrarão dela ao lado de sua irmã, Aurora, ao lado de Zé Carioca e Pato Donald cantando Aquarela do Brasil. Partidários ou não de Carmen, temos de admitir que ela exerceu uma grande influência em Hollywood. Mais emblemático do que Lucille Ball imitando Carmen Miranda em seu seriado para mim não há. 

Falar sobre os filmes de Carmen Miranda é tão essencial quanto levantar e escovar os dentes para não ter cáries. Isso porque eles estão esquecidos, e não se pode esquecer uma parte tão importante do cinema e muito menos alguém tão importante quanto ela. Talvez este texto, que se propõe a falar singelamente sobre um de seus filmes, fale mais dela do que de qualquer outra coisa. Fazer o quê, se Carmen Miranda aparecia e roubava a cena? É o que acontece em todos os 11 filmes que ela fez.

domingo, 15 de junho de 2014

Um Lugar ao Sol (1951)


Dois ícones em ascensão e um diretor visionário aliados em uma grande produção só poderia resultar em um dos maiores clássicos de todos os tempos. A jovem Elizabeth Taylor tinha somente 17 anos na época das filmagens e já era bastante conhecida pela participação em filmes como "A Mocidade é assim mesmo" e "Quatro Destinos", sempre em papéis juvenis. Em 1951, isso estava prestes a mudar já que estava na mira da Paramount que aguardou o momento certo para oferecer-lhe o papel de Angela Vickers. Montgomery Clift mal tinha dado os primeiros passos e já era uma promessa desde que protagonizou "Tarde Demais" com Olivia de Havilland, dirigido por William Wyler. Parece que nada poderia dar errado e George Stevens merece todo o crédito por suas intuições na produção de "A Place In The Sun".

sábado, 14 de junho de 2014

Harry & Sally - Feitos um para o outro (1989)

 It is so nice when you can sit with someone and not have to talk.
 1979. Depois de um longo casamento com a também diretora Penny Marshall, Rob Reiner estava de volta ao mundo dos solteiros. Existe vida depois do divórcio? Parece que sim, afinal, e Rob levou dez anos para refletir, com certa dose de cinismo, acerca das relações entre homens e mulheres, e também como as duas partes veem as coisas de pontos de vista totalmente diferentes. Ele precisava fazer um filme sobre isso. Bem, Reiner tinha a visão masculina, é claro. Junto com o produtor Andrew Scheinman, ele desenvolveu várias ideias. Mas e o outro lado da moeda? Bastaram alguns telefonemas para Nora Ephron para convencê-la a roteirizar a história, que ainda não estava totalmente firme. Muitos almoços e jantares e telefonemas e discussões dos três depois, nascia o roteiro de Harry & Sally. De muitas maneiras, Rob era Harry, assim como Nora era Sally - e vice-e-versa.

Com um jeito Woody Allen de questionar relacionamentos, Harry & Sally fechou a década de 80 com chave de ouro. E trazia um questionamento que resumia bem seu espírito, assim como as diferenças entre o sexo masculino e o feminino: afinal, homens e mulheres podem ser amigos sem colocar o sexo no meio em algum momento da relação? E a resposta vem na forma de entretenimento cinematográfico da melhor qualidade, coroado por elenco e diálogos brilhantes.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Alguém tem que ceder (2003)



Como é engraçada essa relação com filmes. Eu os comparo com as pessoas às vezes: temos aqueles que não suportamos de maneira alguma, outros que até que vai e os que amamos de todo o coração. E a categoria mais importante dos filmes, aqueles que amamos tanto que chega a ser insuportável rever. Minha relação com Alguém tem que ceder é assim. Desde que o vi no cinema, no dia dos namorados do ano de 2003, com minha mãe, esse filme tem sofrido altos e baixos. Há épocas em que simplesmente me proíbo de vê-lo com medo dos efeitos colaterais. Épocas em que penso que nenhum personagem de cinema pode dizer tanto sobre mim quanto a Erica Barry encarnada por Diane Keaton em Alguém tem que ceder. E há outras épocas em que aceito que a carga emocional que ele me desperta é algo que precisa ser revivido, pelo bem da sétima arte, de vez em quando. Essa é minha ode a todos os românticos que leêm este blog. Alguém tem que ceder é sobre nós, que não temos medo de ceder quando necessário. 

O leitor deve estar se perguntando o que faz desse filme algo tão poderoso que me faça passar épocas sem revê-lo. Primeiramente eu diria que Alguém tem que ceder está para os anos 2000 como Annie Hall estava para os anos 70.  Esqueça aquelas comédias românticas pastelonas, como bem lembrou a Camila em seu post sobre Annie Hall, onde o protagonista encontra a mocinha, eles se odeiam, se apaixonam loucamente e vivem felizes para sempre. Não. Porque embora os personagens de Jack Nicholson e Diane Keaton se odeiem e se amem depois, o final feliz não é algo que vem de bandeja nesse filme. Alguém tem que ceder utiliza fórmulas clássicas desse gênero de filme e cria uma história espetacular, cheia de reviravoltas e diálogos maravilhosos. É a comédia romântica com mais frases inteligentes e espirituosas por minuto que já vi! Alguém tem que ceder é um filme verdadeiro assim como seus personagens. E é aí que ele ganha nossos corações. Além daquele sofrimento todo ao som de música francesa.