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terça-feira, 8 de julho de 2014

Dez cenas mais sensuais do cinema

Às vezes a magia no cinema está naquilo que a câmera não diz, que nos deixa pensando. Chamamos esse processo de elipse. Outras vezes, a graça está justamente no que a câmera nos revela, mas de um jeito todo especial. Hoje decidimos eleger as 10 cenas mais sensuais do cinema.

Mostrar a sensualidade e o sexo no cinema sempre foi um processo de ilusão na minha opinião. O erotismo no cinema nos fascina, embora esteja sempre distante da realidade. Ninguém pensa em transar como nos filmes, isso não existe. Não importa. Ver uma bela cena de amor no escurinho do cinema tem seu valor. Desde o surgimento do cinema, os diretores mostraram o sexo de diversas formas. Quando o código Hayes de censura chegou em Hollywood, essas pessoas provaram que podiam falar de sexo através de metáforas e elipses. Depois com a revolução de 1960, as cenas se tornaram mais “reais”, tentando se aproximar do nosso cotidiano. Selecionamos cenas para todos os gostos, desde as mais poéticas até as mais explícitas, por vezes até chocantes. Cenas que, de alguma forma, quebraram padrões na maneira como o sexo e o erotismo é tratado nos filmes.

Não foi fácil elaborar a lista, confesso. Também confesso que meu gosto pessoal influenciou bastante nela. Por isso, se lembrarem de alguma cena que ficou de fora, escrevam na valorosa caixa dos comentários!

Vamos ao nosso top 10?


10. Pacto de sangue: Pense no estrago que as pernas de Barbara Stanwyck podem causar. Pensou? Agora redobre o estrago: as pernas estão descendo a escada. A primeira vez que o corretor de seguros, Walter Neff (Fred McMurray), se encontra com Phyllis Dietrichson (Stanwyck), ela está no pé de uma escada, só de toalha. Já é um prelúdio da relação de sexo e poder que iria se estabelecer entre eles. Phyllis, no alto da escada, parece uma deusa. Depois Billy Wilder filma duas vezes as pernas de Barbara descendo a escada, como forma de acentuar o fascínio de Walter por elas, que se confirmará com o diálogo pra lá de sensual sobre a tornozeleira que a personagem está usando. Um filme corajoso que trabalha a sensualidade pelas beiradas, pois a censura estava pegando em Hollywood na época em que foi rodado, 1944. Merece estar na lista.



9. As pontes de Madison: Filme do tipo que não se pode assistir sem uma caixa de lenços ao lado, este clássico dos anos 90 tem duas cenas eróticas maravilhosas. A primeira é a dança na cozinha entre os personagens Francesca (Meryl Streep) e Robert (Clint Eastwood) ao som de uma música jazz. Os personagens estão começando a criar intimidade e é tão bonitinho ver Francesa com medo de tocar Robert, medo de sentir algo que possa sair de seu controle. Uma cena poderosa de amor e erotismo. É de derreter qualquer coração. Depois, temos a cena pós-amor, digamos assim, que se passa na banheira. Tudo nos causa arrepios nessa cena: o calor, Meryl e Clint juntos em uma banheira, a voz de Meryl Streep narrando o filme. Vejam, são duas cenas TÃO simples, mas que conseguem dizer tanto. Gosto da maneira delicada como Clint Eastwood adaptou essas duas cenas do romance para a tela.




8. Crown, o magnífico: Faye Dunaway e Steve McQueen. Começa aí. Vicky Anderson (Faye) está no encalço de Thomas Crown (Steve), um ladrão muito esperto e ludibriador. Durante o filme, ele tenta seduzi-la de várias formas. A cena de xadrez, motivo pelo qual o filme está nessa lista, é uma metáfora desse jogo de sedução entre eles. Thomas está jogando para ganhar Vicky, digamos assim. Eles começam a jogar. Começam a trocar olhares profundos, do tipo que já está matando o espectador do outro lado da tela. A câmera foca bem de o rosto deles, temos oportunidade de experimentar o jogo de sedução entre Faye e a câmera. Vicky vai movendo as peças do xadrez, fazendo gestos sugestivos, ora colocando a peça na boca ora deixando os dedos correrem pela ponta da peça. Thomas parece estar quase tendo um AVC também.




7. A piscina: A sensualidade sempre foi uma qualidade dos franceses. Eu diria dos europeus inclusive. Ninguém sabe tomar elementos simplórios e torná-los dignos de respirações entrecortadas como eles. O ano é 1967, Alain Delon e Romy Schneider, Elizabeth Taylor e Richard Burton europeus, estavam com tudo. Mais uma vez temos o calor. Uma piscina. Alain Delon na beira da piscina tomando um copinho de bebida, deitado na laje molhada. Dá até pra sentir o calor daqui. De repente, a câmera filma os pés molhados de Romy Schneider. Ela se abaixa, sobe em cima dele e assim eles ficam durante longos minutos. Depois Delon retira a parte de cima do biquíni e o resto fica na nossa imaginação. Particularmente tenho um forte por esse tipo de cena em piscinas, acho muito sensual quando um diretor filma uma pessoa saindo toda molhada de dentro da piscina. Calor, água, suor, tudo isso está dentro do campo semântico do erotismo.




6. Uma rua chamada pecado: E se a gente fala em calor, precisa falar sobre este filme. Faz calor o tempo inteiro. Os personagens moram num moquifo, faz calor, é apertado, a coca-cola gelada está esperando para ser saboreada pela personagem de Vivien Leigh. Uma rua chamada pecado não tem uma única cena sensual porque todas cenas são assim.  O próprio clima do filme já é uma exaltação ao erotismo, a começar pelos créditos de abertura tocando aquele jazz muito alto. A cena em que o personagem de Marlon Brando, Stanley, carrega a esposa de volta para casa, com a camisa rasgada, todo molhado e meio bêbado entrou para a história. Cortada pela censura, só veio a ser vista depois que a versão integral do filme foi lançada. O filme de Elia Kazan trabalha muito com as elipses, ou seja, está o tempo inteiro mencionando sexo sem mencionar. Outro filme corajoso, que deve ter chocado muito as famílias conservadoras dos anos 50.




5. Hoje eu quero voltar sozinho: Que filme mais lindo. Foi uma surpresa maravilhosa assisti-lo no cinema e pensar que temos muitos filmes brasileiros bons por aí. Ele conta a história de dois rapazes, um deles é cego, que acabam se apaixonando. Você fica naquela expectativa porque não sabe se Gabriel (Fábio Audi) é correspondido por Leonardo (Ghilherme Lobo). Eles acabam indo para um acampamento da turma – são colegas de escola – passar um final de semana fora. Gabriel não se sente à vontade, naquele momento está achando que Leonardo não o corresponde e que está apaixonado por sua amiga, Gi (Tess Amorim). Depois de um banho de piscina, Leonardo leva Gabriel para tomar banho, e no chuveiro se desenrola uma das cenas gays mais bonitas e sensuais que já vi. É muito bonito ver como o filme mostra que a cegueira não impede ninguém de levar uma vida normal. E como a atração de Gabriel, que é cego, por Leonardo se manifesta de outras formas. É o cheiro, o toque… Gabriel não sabe que está sendo observado por Leonardo. A câmera filma a água caindo pelo corpo do garoto e o olhar envergonhado de Leonardo, que acaba indo embora sem saber como agir. Recomendo o filme, uma maneira de retratar a relação homoafetiva como ela merece: sem tabus, nem estereótipos.




4. Chamas de verão: O ano era 1966 e Tony Richardson tinha tanta vontade de trabalhar com Jeanne Moreau que deixou a cargo dela a escolha do roteiro e o assunto do filme que eles iriam rodar. A atriz, conhecida pelos papeis polêmicos, escolheu um roteiro assinado por Jean Genet, com diálogos de Marguerite Duras. Dá pra depreender o que vem daí, né? Chamas de verão conta a história de uma professora que mora em um vilarejo de maioria italiana. Tudo aparentemente normal senão fosse pelo fato de que ela tem a maldade na alma. Logo na primeira cena ela esmaga ovos de passarinho com a maior cara de prazer do mundo. A professora tem um desejo ardente dentro de si, pelo qual faz questão de se auto punir, colocando esparadrapos nos seios por exemplo. No entanto, ao conhecer um lenhador, ela não consegue mais controlar seu desejo sexual. É interessante ver como Chamas de verão trabalha a sexualidade das mulheres, como somos educadas para controlá-la a tal ponto que a personagem se pune por sentir desejo. Como o olhar do outro controla nossa sexualidade. A partir deste momento, começa uma enxurrada de cenas sensuais, como a da cobra. O filme trabalha o tempo inteiro em insinuações ao sexo, por exemplo, quando o lenhador segura uma cobra nas mãos e diz para a professora tocá-la. Ela não vai lhe morder, ele diz. O olhar de Jeanne Moreau, seus olhos faiscando mas cheios de pudor ao mesmo tempo, são inesquecíveis. As insinuações culminam em uma das cenas mais longas de sexo que já vi. Não, não é sexo explícito, afinal ainda estamos em 1966. A professora sai para encontrar o lenhador à noite e, no mato, começa uma sucessão de cenas em que o espectador se pergunta até onde os limites do sexo podem ir. Ela late para ele, ele cospe nela. Não é a toa que o filme foi vaiado no Festival de Cannes daquele ano.



3. Oito mulheres: Desde o momento em que a personagem Pierrette (Fanny Ardant) coloca os pés na casa de Gaby (Catherine Deneuve), esposa do falecido irmão dessa primeira, a tensão sexual é declarada. Uma tensão sexual bastante discreta, com os olhares discretos e reprovadores de Gaby em direção à Pierrette. Gaby insulta Pierrette por sua liberdade sexual; Pierrette insulta Gaby por seu conservadorismo. A câmera de Ozon filma os pés das duas mulheres se chutando, depois suas pernas se roçando no chão durante a cena em que brigam, depois de descobrirem que tinham o mesmo amante. O beijo trocado entre elas, sela a união desses dois mundos tão diferentes.



2. Fome de viver: “Ninguém precisa estar bêbado para transar com Catherine Deneuve” – disse Susan Sarandon no que foi, talvez, seu maior momento de sabedoria. Uma das cenas gays mais famosas do cinema quase foi por água abaixo porque os produtores queriam que Susan estivesse bêbada. Ela se recusou e ainda sugeriu que sua personagem se derramasse vinho na blusa para tornar a cena mais sensual. Resultado? Uma cena altamente sensual, poética e ao som de música erudita. Os pequenos detalhes se transformam em coisas grandiosas, lembro até hoje das cortinas esvoaçando. Uma mistura erotismo e terror ao mesmo tempo, pois Susan acaba sendo mordida pela personagem de Deneuve. O sangue escorrendo ao som de música erudita dá esse toque de inocência e macabro ao mesmo tempo. Um tour de force dos anos 80.




1. Os amantes: Jeanne Moreau foi a rainha dos filmes franceses polêmicos e, em 1958, ela já provava porque carregaria esse posto durante toda sua carreira. Os amantes, de Louis Malle, deu um tapa de luva na burguesia francesa ao tratar de uma mulher entediada e infeliz em seu casamento que decide trair o marido. Até aí o espectador francês já estava bem chocado, mas imagine você quando a protagonista aparece com os seios de fora em uma cena que deixa bastante claro que ela está recebendo sexo oral. Naquela época, seios não eram apenas seios; eram motivo de choque, a sexualidade feminina estava bem escondidinha entre quatro paredes e só se manifestava na presença dos maridos das mulheres. A cena, que dura cinco ou seis minutos, é muito bem filmada. Jeanne Moreau nunca esteve tão bonita, arrisco dizer que seu relacionamento com Malle na época do filme a ajudou nesse quesito. Malle se foca nos pequenos detalhes que enchem a cena de sensualidade: as mãos dos personagens que se unem (é a capa de uma das edições do filme inclusive), a personagem de Moreau sussurrando Mon amour… mon amour, o sexo ao som de Brahms… Uma cena que entrou para a história do cinema e antecipou o que a Nouvelle Vague faria depois em termos de ruptura com o cinema antigo.





Sugestões? Esquecemos de alguma cena? Então comente na nossa valorosa caixa de comentários.

Publicado por Jessica Bandeira. 

Um comentário:

  1. Da lista, eu só assisti o Fome de Viver e 8 Mulheres que fez lembrar de várias cenas da Ludivine Sagnier no filme Swimming Pool. Normalmente exploram muito a sensualidade dela, incluindo cenas de nudez, mas nesse filme faz sentido pelo contexto. Inclusive ele é bem explícito.

    Uma das cenas: https://www.youtube.com/watch?v=voU4TwqWnZ0

    Acho que eu teria outras para citar, mas vou me manter nessa que foi a primeira que me veio à mente. Lembrando de outras, volto aqui.

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